O texto a seguir foi originalmente redigido em 1980 para os professores da escola do filho de Stephanie S. Tolan, uma grande estudiosa da área da Superdotação. Ela escreveu esta carta depois que os testes indicaram que ele estava na faixa de “excepcionalmente superdotado”.
Segundo Stephanie, ela esperava que isso fornecesse mais informações sobre quem o filho era e por que os pais estavam solicitando mudanças significativas nos métodos de ensino convencionais que a escola adotava. Na época, ela se dizia inexperiente no campo da educação para superdotados e lutava para encontrar orientações claras em uma jornada educacional desafiadora.
A carta aberta foi expandida quando o filho dela completou dez anos, protegida por direitos autorais separadamente e incluída como Capítulo 13 em Guiding the Gifted Child, uma obra que ela coescreveu com James Webb e Elizabeth Meckstroth, em 1982.
Uma das principais mudanças desde a publicação do livro está relacionada aos testes de QI. Os novos testes não fornecem mais pontuações distintas nas extremidades superiores do espectro intelectual. Portanto, as pontuações de teste mencionadas na Carta Aberta como excepcionalmente ou profundamente superdotadas não são mais alcançáveis pelas crianças nos testes atuais. Embora o Stanford-Binet Form ainda possa ser utilizado como teste secundário para identificar estas diferenças com mais clareza, não é comum o seu uso nos dias de hoje.
Muitas mudanças ocorreram desde então, e foi quando o ensino em casa tornou-se uma opção viável. A tecnologia dos computadores facilitou a conexão entre crianças e pais, além de proporcionar acesso a vastas quantidades de informações com apenas um clique. No entanto, as transformações na educação americana tiveram pouco impacto positivo nas crianças “mais superdotadas”. Pais frequentemente relatam que a Carta Aberta ainda reflete as mesmas dificuldades que enfrentam atualmente.
Vamos conhecer alguns aspectos do relato de Tolan sobre seu filho, entendendo como a socialização de uma experiência pode ser tão rica para compreender seu próprio filho.
Quando seu filho tinha cinco anos, os pais começaram a suspeitar que ele era excepcionalmente inteligente. Se tivessem conhecimento do que sabem agora quando ele tinha dois anos, já teriam identificado suas habilidades precocemente.
O filho de Tolan foi criada junto com um amigo cujo filho também era superdotado, o que dificultou a percepção total do potencial dele. Aos dois anos e meio, já demonstrou sua inteligência ao vencer uma situação desafiadora com sua mãe. Desde cedo, ele chamava a atenção com suas conversas e senso de humor, características típicas de crianças superdotadas. Além disso, sua criatividade e sensibilidade também se destacavam, indicando um potencial intelectual excepcional para uma idade tão jovem.
NA ESCOLA
Até que a criança excepcionalmente superdotada comece a frequentar a escola, pode não enfrentar grandes dificuldades. No entanto, ao ingressar na escola, muitas vezes surgem obstáculos que afetam negativamente seu aprendizado e desenvolvimento.
O filho de Tolan, um menino identificado como excepcionalmente inteligente, enfrentou desafios na escola pública Montessori, onde não encontrou estímulo acadêmico adequado. Apesar de sua capacidade avançada, ele não recebeu suporte para seu potencial, levando seus pais a suspeitarem de sua superdotação. Ao buscar orientação de especialistas, os pais enfrentaram a “síndrome da negação”, sendo questionados e desencorajados em relação às habilidades excepcionais de seu filho.
COMO FICOU O FILHO DE TOLAN DEPOIS DE 30 ANOS
Após quase 30 anos, o filho e a outra criança, filho do melhor amigo, seguiram caminhos distintos, mas ambos encontraram sucesso em suas vidas. O filho de Tolan frequentou uma escola particular de ensino médio, teve experiências enriquecedoras no programa de busca de talentos e posteriormente ingressou em uma excelente universidade estadual. Após se formar, ele seguiu sua paixão pelo teatro e optou por não prosseguir com estudos de pós-graduação. Atualmente, ele está lidando com os desafios de ser pai de duas crianças excepcionalmente também superdotadas.
Por outro lado, o filho do melhor amigo, teve dificuldades em sua educação até que sua mãe permitiu que ele abandonasse a escola. Posteriormente, ele participou do programa de busca de talentos e foi admitido no ensino médio aos 12 anos com base em suas notas. Ele seguiu uma jornada não convencional, obteve um doutorado, tornou-se um professor respeitado em uma grande universidade e é um palestrante frequente em conferências internacionais em sua área de atuação. Assim como o filho de Tolan, ele também enfrenta os desafios de educar uma criança excepcionalmente superdotada.
Ambos encontraram maneiras de prosperar em suas áreas de interesse, apesar das dificuldades enfrentadas no sistema educacional americano, que muitas vezes não atende adequadamente às necessidades das crianças excepcionalmente talentosas.
Podemos notar que não difere muito da situação da superdotação no Brasil, quando as crianças dependem muito mais do pais e muito menos da preparação das escolas para conseguirem prosperar quando se tornam adultos.