A visão do adulto superdotado sobre sua própria neurodivergência

Identificar-se como uma pessoa superdotada na vida adulta pode ser bastante complexo, especialmente devido à grande diversidade de perfis existente entre os adultos com esta condição. Como seria o estereótipo de um adulto superdotado? Para muitos deles, pode parecer que são iguais a todo mundo e que nada há de diferente. O que poderia ter de diferente, certamente será olhado como um “defeito”.

Fazendo uma analogia, esta dificuldade é explicada pela própria tendência humana em perceber sua próprias falhas e só enxergar as habilidades dos outros. Esse é um padrão que pode afetar negativamente a autoestima e levar a uma visão distorcida dos potenciais, muitas vezes sendo vistos apenas como “estranhos”.

Muitos adultos superdotados têm pouco conhecimento sobre suas próprias características e como elas diferem das características consideradas mais comuns. Isso frequentemente resulta em uma baixa autoestima, por vezes extremamente debilitante. A maioria dessas pessoas nunca foi formalmente identificada, e mesmo aquelas que foram podem ter dificuldade em aceitar essa identificação e incorporá-la à sua autoimagem.

Embora as mulheres enfrentem uma pressão particular em nossa sociedade para reconhecer e utilizar plenamente sua inteligência excepcional, a incerteza em relação aos talentos pode afetar tanto homens quanto mulheres, especialmente aqueles que não são reconhecidos como intelectualmente bem-sucedidos. Mesmo entre os homens e mulheres reconhecidos por suas realizações, a “síndrome do impostor” é comum, onde eles continuam a ter sucesso, mas temem ser descobertos como fraudes.

Para mim, por exemplo, que muitas vezes questiono minhas próprias habilidades, é difícil reconhecer plenamente potencialidades que posso ter. Mesmo quando recebo elogios, ainda posso me sentir como se estivesse enganando os outros e temer ser descoberta como alguém menos superdotado do que pensam que eu seja.

A pressão para reconhecer e expressar minha inteligência em um mundo que valoriza certas habilidades superficiais pode ser esmagadora! A incerteza em relação aos meus próprios talentos pode ser paralisante, e muitas vezes me pego questionando se realmente mereço os elogios que recebo.

Enquanto tento compreender e aceitar minha singularidade e potencial, percebo que cada pessoa superdotada é única à sua maneira. Mesmo que nossos potenciais possam parecer semelhantes, cada um de nós possui uma combinação especial de habilidades e perspectivas que nos tornam valiosos.

Apesar das dúvidas e inseguranças que possam surgir, é importante lembrar que nossas capacidades inatas são parte essencial de quem somos e merecem ser reconhecidos e celebrados, independentemente de como nos comparamos com os outros. A jornada de descobrir e abraçar a nós mesmos, quando somos neurodivergentes, é um processo pessoal e contínuo, que nos permite crescer e nos tornar a melhor versão de nós mesmos.

Uma pessoa cujos talentos a levam a se destacar como um pesquisador renomado pode ser vista como excepcionalmente brilhante pela sociedade. No entanto, essa pessoa pode não se identificar com essa visão cultural, dependendo de como ela percebe suas próprias habilidades e em quais áreas se sente desafiada. Enquanto pode não se sentir inferior a um estudante, por exemplo, pode se comparar desfavoravelmente a outro pesquisador renomado que tenha habilidades diferentes, como uma memória excepcional ou habilidades acadêmicas mais desenvolvidas.

Por outro lado, ela pode subestimar a complexidade de seu trabalho intelectual em comparação com o de qualquer outra pessoa, levando-a a duvidar de sua própria genialidade e atribuir seu talento a algo inato.

Essas reflexões mostram como pessoas altamente inteligentes, acostumadas a lidar com desafios que outros consideram difíceis, podem ser especialmente críticas consigo mesmas e inseguras em relação às suas habilidades. A constante comparação com os pontos fortes dos outros, a valorização excessiva das habilidades alheias e a sensação de ser diferente podem distorcer a autoimagem e minar a autoestima, mesmo em indivíduos reconhecidamente superdotados.(Fonte: Esse texto foi baseado em minha experiência pessoal e parte dele foi inspirada no Artigo publicado originalmente no Advanced Development Journal, Volume 8, 1999).

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